Quando um desastre de origem natural acontece, como a enchente que ocorreu em Cataguases no último final de semana, é preciso tomar alguns cuidados para evitar a transmissão de doenças e preservar a saúde. O setor de Vigilância em Saúde da prefeitura, por meio do biólogo Élcio Amaral, fala das principais medidas que devem ser tomada para a higienização das casas, conservação e reaproveitamento de alimentos, limpeza de caixas d’água e cuidados com doenças causadas pela enchente e com animais peçonhentos que podem surgir quando as águas baixam.
Segundo o biólogo, nas enchentes algumas doenças podem se propagar facilmente em decorrência da contaminação da água e dos alimentos. A ingestão de água contaminada pode causar doenças como a cólera, diarreia, febre tifoide, hepatite tipo A, giardíase, amebíase, verminoses e leptospirose. “Sempre filtre e ferva (por 5 minutos) a água antes de beber. Caso não possa fervê-la, trate a água para consumo com hipoclorito de sódio (2,5%). Para cada litro de água que for beber, deve-se adicionar duas gotas do hipoclorito de sódio e deixar repousar por 30 minutos. É importante respeitar esse tempo de repouso para eliminar bactérias”, explica. Ele também alerta para que não seja usada água sanitária que contenha alvejante e perfume para desinfectar água, alimentos e recipientes que armazenam água para consumo humano. A água sanitária só pode ser usada para limpar o chão, pisos, paredes e embalagens de vidro, latas e caixas tipo “longa vida” que não estejam danificadas.
Ainda conforme orientações de Élcio Amaral, o cuidado na higienização, preparação e armazenamento dos alimentos é um procedimento de extrema importância, pois alimentos manipulados e armazenados de forma inadequada podem transmitir doenças. “Não se deve consumir alimentos com cheiro, cor ou aspecto fora do normal (úmido, mofado, murcho), alimentos como leite, carne, peixe, frango e ovos, crus ou malcozidos, principalmente aqueles que entraram em contato com a água de enchente, frutas, verduras e legumes estragados ou escurecidos que também entraram em contato com a enchente, além dos cozidos ou refrigerados e que tenham ficado por mais de duas horas fora da geladeira”, reforça. Segundo o biólogo também devem ser descartados alimentos com embalagem em plástico (garrafas PET, leite em saco, grãos ensacados) que não foram abertos, mas que tiveram contato com água da enchente, bem como aqueles com embalagens em latas, plásticos e vidros que apresentem sinais de alteração, como inchaço, esmagamento, vazamento, ferrugem, buracos, tampas estufadas ou outros danos, mesmo que não estejam abertos. “Por outro lado, alimentos industrializados e embalados em vidro, lata e caixa tipo longa vida que não estejam danificados, amassados, enferrujados ou abertos estão aptos para o consumo. Mas é importante que as embalagens sejam higienizadas com o hipoclorito de sódio a 2,5%”, alerta.
Além destas dicas, o biólogo destaca a importância da limpeza de caixas d’água que tenham tido contato com a água da enchente ou cujo sistema de abastecimento tenha sido afetado. “Para isso é necessário fechar o registro e esvaziar a caixa d’água. Quando ela estiver quase vazia, deve-se fechar a saída para utilizar a água retante na limpeza da caixa, que deve ser feita esfregando as paredes e o fundo com panos e escova macia ou esponja (nunca usar sabão, detergente ou outros produtos). A água suja que restou da limpeza deve ser retirada usando baldes e panos, deixando a caixa totalmente limpa. Em seguida, deve-se deixar entrar água na caixa até encher, acrescentar um 1 litro de água sanitária para cada 1.000 litros de água e aguardar por duas horas para desinfecção do reservatório. Na sequência, deve-se esvaziar a caixa novamente, aproveitando a água usada na desinfecção para limpeza e desinfecção das canalizações, chão e paredes. Por fim a caixa d’água deve ser tampada e enchida, estando própria para o consumo”, observa.
Doenças e animais que surgem nas enchentes
Algumas doenças podem surgir com as enchentes. A mais comum delas é a leptospirose, uma doença causada por uma bactéria presente na urina do rato que normalmente se espalha pela água suja da enchente, lama e esgoto. As pessoas podem ficar doentes quando entram em contato a esta água, porque é quando a bactéria entra na pele. Por isso é importante evitar o contato direto com as enchentes. Já as pessoas que trabalham na limpeza destes ambientes devem usar botas e luvas de borracha. Após as águas baixarem, será necessário retirar a lama e desinfetar o local. Neste momento, conforme Élcio Amaral o correto é lavar pisos, paredes e bancadas com água sanitária, na proporção de 2 xícaras das de chá (400ml) para um balde de 20 litros de água, deixando agir por 30 minutos.
Outra ocorrência comum é o tétano acidental, que é quando as pessoas sofrem lesões na pele (ferimentos, cortes, perfurações) por objetos contaminados deixados no ambiente. O tétano é uma doença grave, causada por uma bactéria que pode estar presente em objetos de metal, de madeira, de vidro ou mesmo no solo (pregos, latas, ferramentas agrícolas, cacos de vidro, galho de árvore, espinhos, pedaços de móveis entre outros). “A melhor e mais segura forma de prevenção e proteção é por meio da vacinação, disponível nos postos de saúdes. Se a pessoa acidentada não tem certeza que está com esta vacina em dia, deve procurar com urgência o serviço de saúde mais próximo para se vacinar”, explica Élcio.
Além disso, doenças respiratórias infecciosas também podem ocorrer com frequência e, em tempos de pandemia, os cuidados devem ser redobrados. Por isso, é fundamental fazer uso dos protocolos de higienização fartamente conhecidos, como a limpeza constante das mãos, e também de alimentos, objetos e superfícies, bem como manter os ambientes arejados. Por fim, vale lembrar que acidentes com animais peçonhentos são comuns após a enchente, isto porque eles costumam invadir as residências, principalmente em áreas verdes ou próximas a matagais. É preciso, por exemplo, ter cuidado ao entrar na água e ficar atento com relação a serpentes que podem estar nadando em busca de terra seca. “Os principais cuidados ao retornar para casa são entrar com cuidado e observar atentamente a presença deste animais, sabendo que eles se escondem bem. Por isso, deve-se bater os colchões antes de usá-los e sacudir roupas, sapatos, toalhas e lençóis; limpar o interior e os arredores da casa usando luvas, botas e calças compridas, isto porque serpentes, aranhas ou escorpiões podem estar em qualquer parte da casa, principalmente em lugares escuros”, finaliza.